quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Eu aprendi Libras na escola

Em 15 anos frequentando bancos escolares conheci apenas uma aluna surda, a Juliana. Estudamos na mesma classe da 2ª à 4ª série do ensino fundamental na EMEIF Monsenhor Afonso.
Tenho ótimas lembranças dessa época: os meninos eufóricos correndo pelos corredores. Eu, a Ju e as demais meninas brincando de amarelinha no pátio da escola. Às vezes, jogávamos queimada durante o recreio. Meninos contra meninas, óbvio que a vitória era feminina. Também, com uma capitã comunicativa e estratégica como a Juliana o resultado não poderia ser diferente.
Além de memórias esportivas e das traquinagens do intervalo, recordo-me bem do clima amistoso e mútuo dentro da sala de aula. TODOS participavam da aula, inclusive a Juliana. Ela  era aluna como a gente e o fato dela ser surda nunca prejudicou o relacionamento entre alunos. E para que isso se tornasse simples e agradável, desde cedo aprendemos algo que deveria ser ensinado nas escolas do país inteiro, sem exceções: A Língua brasileira de sinais (LIBRAS).
Sim, na minha escola pública , no interior de São Paulo, tinha Libras para os alunos do pré-escola até a quarta série. Havia uma professora para essa matéria e ninguém se recusava a aprender a linguagem de sinais, todos tinham prazer em estudar.
A Juliana é inteligente, proativa, ágil, estratégica, joga futebol melhor que muito jogador profissional. Sua redação feita em homenagem à cidade foi premiada e muitas vezes ela me ajudou a resolver problemas matemáticos. 
Na escola onde estudei tinha inclusão para alunos com deficiência auditiva, síndrome de Down e cadeirantes, mas detalhe: essa escola era a única da cidade a oferecer este aprendizado. Em outras instituições de ensino vi a Juliana e outros alunos sofrer com o descaso da direção escolar e do poder público.
Não tenho mais contato com a Juliana, a última vez que a encontrei foi no ano passado, quando voltava para casa. Ela venceu muitas barreiras e dificuldades.Hoje, dedica-se ao esporte e conseguiu concluir a graduação.
Sou grata por ter vivido essa experiência ainda criança e tenho certeza que aquelas aulas contribuíram para a formação de pessoas que se importam com o bem-estar da sociedade e que estão dispostas a lutar por acesso à inclusão social.





segunda-feira, 11 de julho de 2016

Trilha Sonora




Ela é louca, abilolada, apaixonada e envergonhada. Não sabe como declarar o amor que sente, já procurou até no Google dicas de como dizer ao crush que o ama, mas não adianta, ela não consegue falar. Na tentativa de  reprimir esse platonismo faz de tudo para disfarçar, às vezes de uma maneira simpática e agradável, e outra malcriada, mal humorada e indiscreta. 

Naquela cabeça adolescente vale tudo para deturpar esse amor, até mesmo chamá-lo de velho repetidamente.
Mas logo se arrepende, e fica a implorar e apelar pela música de Caetano. "Você bem que podia perdoar,/ E só mais uma vez me aceitar,/ Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la."
Inútil é a música Você Não Me Ensinou a Te Esquecer nessas horas, porque além de  não saber como esquece-lo, ela sempre insiste em cometer o mesmo erro.

As brigas já passaram e a trilha sonora também, na manhã seguinte os versos cantados entre sua casa e o trabalho são “Tô louca pra te ver chegar,/ tô louca pra te ter nas mãos./ Deitar no teu abraço,/ Retomar o pedaço que falta no meu coração.”
Essa música é dos anos 2000, talvez quando foi lançada a menina tivesse seus cinco anos de idade, contudo continua atual para história dos dois e desconfio que o rapaz possa cantarolar esse refrão para ela também, mesmo inconscientemente.  
Por quê? Porque se a linda menina não aparece ou sai por alguns instantes, ele demonstra saudades dela. E se sabe que está paquerando alguém parece sentir ciúmes.

Ela é meiga, carinhosa, romântica – até demais, e poetisa, todavia insiste em fazer pose de rabugenta e chata propositalmente. Quando está com raiva do príncipe de cabelos castanhos sente a convicção de que “Quem lhe deu toda essa ousadia,/ Quem desperta nela, tanta alegria,/ Não é o príncipe de cavalo manco,/ Foi aquele Rei do cavalo branco,/ Esse é o segredo dessa menina”.
Sim, é Deus quem a dá aquela animação toda, e por acreditar que existe um Deus todo Poderoso ela fica magoada ao escutar seu galã dizer que Ele não existe. Para ela, acreditar em Deus é essencial!

O dia passou e a noite é bem vinda. Ao entrar no quarto ela abre o guarda – roupas e olha o vestido verde e confessa: “Tô com saudade de você censurando o meu vestido,/ As juras de amor ao pé do ouvido,/ truque do desejo./ Guardo na boca o gosto do beijo,/ Eu sinto a falta de você”. 
Sente saudades sendo que faz apenas 1h que estiveram juntos...! 

Aquela moça só queria ter coragem e dizer
“And I will always love you, / I will always love you, / you, my darling you…”
Sempre!
Contudo, ela prefere acreditar em Mais uma de amor. "Eu gosto tanto de você,/ Que até prefiro esconder,/ Deixo assim, ficar,/ Subentendido,/ Como uma ideia que existe na cabeça,/ E não tem a menor obrigação de acontecer."

Na minha humilde opinião, ela deveria dizer sim "And I will always love you,/ I will always love you,/ you, my darling you..." Até mesmo porque quem não arrisca não petisca.







segunda-feira, 4 de julho de 2016

Meu pauteiro apaixonante


Sua voz é linda, aconchegante e cheia de paz, bem como aquela sua camisa rosa que transmite a ideia de força, sensibilidade e  delicadeza.
Quando digo que sua camisa rosa remete a sua delicadeza, quero dizer que ela representa o ser humano incrível que você é. O amigo e companheiro, aquele que conhece cada gesto meu de euforia ou de tristeza. O cara exagerado e que, claramente, quer o meu bem. 

O cara da risada debochada e ao mesmo tempo sincera, mestre em dar choques de realidade e patadas adoidadas na criatura que morre de paixão por ti. Convencido? Sempre, meu pauteiro apaixonante!
A verdade é: Sou louca por suas camisas e pelo seu timbre de voz!

Um dia desses atrás te magoei ao falar sobre sua camisa rosa, exagerei um pouco. Fui preconceituosa e leviana. Essa não foi a educação que recebi dos meus pais, saiba que eles sempre cuidaram de desmistificar os estereótipos sobre o que a sociedade julga ser feminino ou masculino, aliás, papai também amava camisas rosas.
Mil desculpas novamente.

Ah... O que falar de sua voz? Ela é belíssima! É forte, é confortável, é calorosa. Soube que por causa dela você conquistou várias fãs na madrugada, quando ouvi essa história senti tanto ciúmes que quase pirei.

Às vezes esqueço que você não passa de um amor platônico bobo, daqueles que se vive em tempos de graduação e me pego enciumada ao ver alguém com um peguei a mais contigo. Então para voltar à realidade nua e crua releio aquele e-mail, em que você fala:

"Sou adulto, profissional, ótima família, tenho amigos e muito bem resolvido comigo mesmo.  Coisa que talvez você não seja. Mas não me cabe falar sobre isso com você, porque sou jornalista e não psicólogo.”.

Grosseiro? Sim você é!

Entretanto minha criancice transcendeu todas as barreiras noutro dia, porém, para lavar minha alma, até mesmo porque ser apaixonada não é sinônimo de ser trouxa, tenho que descontar a minha humilhação pública: Você é o quarentão mais esnobe que já conheci, é mais um playboy do Morumbi patife e se esqueceu de crescer mentalmente.

Porém o que adianta vomitar essas palavras de ódio contra ti, sendo que eu te amo? Na verdade, ser apaixonada é sinônimo de ser trouxa sim, pois caso contrário não ficaria descabelada por causa de um e-mail e muito menos perderia meu tempo escrevendo a respeito da sua voz e pedidos de desculpas por causa de sua camisa rosa.

Sou dissimulada e cínica? Sonsa e imprudente? Ou mal resolvida e imatura?

Sua voz nitidamente soa mais alto dentro do meu peito!

Caras e bocas do Wood me representam nessas situações do cotidiano